O GT de Tradução da ANPOLL: história e perspectivas

Maria Paula Frota
Pontifícia Universidade Católica – Rio de Janeiro
mpfrota@let.puc-rio.br

Qualquer historiografia dos estudos da tradução no Brasil encontrará no GT de Tradução da ANPOLL (Grupo de Trabalho de Tradução da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística) um dos pilares centrais de seu desenvolvimento. Se considerarmos que o momento inaugural do GT de Tradução deu-se no I Encontro Nacional da Anpoll, em 1986 – quando a sua criação foi sugerida por Edson Rosa da Silva, professor da área de literatura da UFRJ –, podemos, neste ano de 2006, ter a satisfação de comemorar os seus 20 anos.

A construção de qualquer história implica, como sabemos, a consideração das circunstâncias em que surge o seu objeto. No caso do GT de Tradução, sem dúvida o seu surgimento vincula-se aos movimentos mais amplos que se deram no campo disciplinar dos Estudos da Tradução, tanto em âmbito nacional quanto internacional. Aqui proponho começar uma história do GT que parta de sua contextualização em nosso país, o que nos propiciará uma melhor compreensão de seu importante papel. 1

Procurarei fazer essa contextualização de modo a trazer situações e eventos relevantes que tiveram lugar no universo brasileiro da tradução, enfocando prioritariamente o seu viés acadêmico, dada a vocação da Anpoll, mas sem deixar de incluir, sempre que me for possível, o seu viés mais propriamente concernente ao mercado profissional, mesmo porque os trabalhos acadêmicos, ao refletirem sobre a atividade tradutória e a formação de tradutores, devem considerar os aspectos relacionados à atuação destes, os fatores determinantes de seu trabalho e sua recepção. Ao trazer tais eventos, os quais serão discriminados de acordo com sua natureza e apresentados cronologicamente, procurarei já vinculá-los ao GT, seja em termos de realizações passadas ou de perspectivas futuras. 2

Comecemos pelos cursos universitários, visto que eles, e não professores individualmente, é que constituem a Anpoll. A história dos cursos universitários de tradução tem início em 1968, quando foi promulgada a então nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a qual propiciou que esses cursos, de um modo geral, fossem criados nos departamentos de Letras e em nível de graduação. Já em 1969 começou a funcionar na PUC/RJ a habilitação de revisor-tradutor-intérprete, que em poucos anos sofreu reformulações no sentido de discriminar as formações de tradutor e de intérprete, assim fortalecendo cada uma delas. Pouco depois, em 1973, foram aprovadas as habilitações de tradutor e intérprete oferecidas na Faculdade Ibero-Americana de Letras e Ciências Humanas (hoje Unibero). Quanto à primeira inserção da tradução em nível de pósgraduação, esta se deu em 1980, com a criação, na USP, da pós-graduação lato sensu, a qual, lamentavelmente, acaba de ser extinta. 3 Outras habilitações em tradução e em interpretação foram sendo criadas em bacharelados de Letras – como por exemplo as da UFRGS, em 1973, da UNESP, em 1978, e da UnB, em 1980 – todas elas reconhecidas alguns anos depois. 4

Em 1975, a PUC/RJ e a ABRATES (Associação Brasileira de Tradutores) – que havia sido criada em 1974 –, através respectivamente da professora Maria Candida Bordenave e de Paulo Rónai, realizaram o I Encontro Nacional de Tradutores, no campus daquela universidade. Lia Wyler faz uma viva descrição desse I Encontro e ressalta que “nenhum outro teve as mesmas repercussões políticas nem incentivou tantas realizações práticas quanto este evento organizado em plena ditadura militar” (2003: 142-146). Apesar do grande êxito, o II Encontro só veio a ser realizado em 1985, portanto dez anos depois, na mesma universidade e a partir das mesmas iniciativas. Diferentemente do anterior, essa segunda edição encontrou um ambiente acadêmico que, embora ainda embrionário, foi suficiente para ensejar edições subseqüentes, tendo sido realizado o III Encontro já em 1987, na UFRGS, com o tema “O ensino da tradução”. Se o primeiro, nas palavras de Wyler, teve um “cunho eminentemente classista”, como bem indicam os seus objetivos e as recomendações que dele derivaram, os encontros posteriores foram assumindo um caráter mais acentuadamente acadêmico.

Cabe dizer que a Abrates (coincidentemente ou não) foi desativada em 1988, dando lugar ao SINTRA, Sindicato Nacional dos Tradutores, entidade evidentemente mais voltada para os interesses profissionais propriamente ditos, órgão reconhecido pelo governo federal para representar e defender os direitos dos profissionais da tradução. Para fazer juz à importância da Abrates durante o período em que a tradução começava a chegar à universidade, é preciso dizer que ela ofereceu uma série de seminários e conferências sobre temas variados ligados à tradução, lançou em 1976 o Boletim da Abrates, que continha “artigos breves sobre problemas de comunicação interlingual e outras matérias de interesse profissional e cultural”, “fora admitida na Federação Internacional de Tradutores [FIT] com sede em Paris e solicitara ao Ministério da Justiça uma regulamentação da nova lei do direito autoral favorável aos tradutores” (Wyler, ibidem, p. 146). 5

A tradução, considerada pelo ângulo da Anpoll – que, como o próprio nome diz, é uma associação voltada para a pós-graduação e a pesquisa –, apresentava-se sem dúvida como um campo muito fértil mas também muito incipiente quando, em 1987, no II Encontro Nacional da Anpoll realizado na UFRJ, deu-se a primeira reunião do GT de Tradução. Nesse momento o GT estava vinculado à área de letras (literatura) – por força da inserção do professor Edson Rosa da Silva, responsável, como já dito, pela sugestão de sua formação –, passando logo a seguir para a área de lingüística, o que indica o difícil enquadramento dos estudos da tradução na academia. Como se viu, a atividade acadêmica no campo da tradução (e no da interpretação) consistia basicamente no seu ensino em nível de graduação, havendo muito pouca pesquisa e pouquíssimas publicações. Nessa época os estudos da tradução estavam apenas começando a inserir-se nos programas de pósgraduação stricto sensu, em geral como uma linha de pesquisa, e justamente no ano anterior, 1986, eles haviam adquirido pela primeira vez o status de área de concentração em um programa de mestrado e doutorado, no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. 6 O GT foi fundamental na aproximação dos poucos docentes de tradução, distribuídos em diferentes pontos do país, tendo sido por vários anos o fórum central do intercâmbio entre eles e do fortalecimento da área daí resultante, como demonstram os anais publicados desde essa primeira reunião de 1987. Com certeza os Encontros Nacionais de Tradutores, embora mais esparsos e com uma identidade um tanto distinta, também em muito contribuíram para o referido fortalecimento e a expansão da área.

Dada a incipiência do quadro acadêmico da tradução até os últimos anos da década de 1980, em particular no que concerne à pós-graduação, as dissertações e teses também eram poucas e dispersas por diferentes departamentos. Segundo o banco de teses e dissertações (BDTD) fornecido no site do IBICT, a primeira delas, sobre tradução automática, foi defendida em 1973 no departamento de Informática da PUC/RJ. Essa mesma fonte, assim como o levantamento feito por Adriana Pagano e Maria Lúcia Vasconcellos em 2003,7 identificam apenas seis (embora não as mesmas) dissertações e teses defendidas nas décadas de setenta e oitenta, ao passo que uma publicação feita pela Anpoll em 1990 identifica 24.8 Eu diria que praticamente todas elas permaneceram inéditas, sobretudo se tomadas em sua íntegra, na medida em que, como se verá a seguir, tínhamos à época muito poucos canais de publicação. Nesse sentido, os anais dos Encontros da Anpoll e dos Encontros de Tradutores vieram preencher uma importante lacuna, viabilizando a publicação, ainda que parcial, dessas teses e dissertações, ao lado dos estudos realizados por professores da graduação, estudos esses de um modo geral restritos e também ainda raros. Secundariamente havia outros anais de eventos (como por exemplo os dos encontros do GEL - Grupo de Estudos Lingüísticos de São Paulo) e periódicos de outras áreas, os quais, por não serem diretamente ligados à tradução, resultavam em sua dispersão e menor visibilidade.

Visto que é prioritariamente a pós-graduação que, primeiro, gera o desenvolvimento de pesquisas de maior fôlego, publicáveis em forma de livro, e que, segundo, cria ou respalda a possibilidade de sua difusão através das editoras universitárias, a inexistência institucional da tradução nos programas de pós-graduação redundava na quase total inexistência de publicações voltadas para essa atividade. Vejamos o que havia em matéria de livros (de um só autor), coletâneas e periódicos exclusivamente voltados para a tradução, até o surgimento do GT.

O primeiro livro, Escola de tradutores, de Paulo Rónai, havia sido publicado nos idos de 1952, seguido em 1954 pelo de Brenno Silveira, A arte de traduzir, recentemente relançado. Só vinte anos mais tarde, em 1974, foi publicado um terceiro livro, menos conhecido, Byron no Brasil: traduções, de Onédia Barboza; e, em 1975, A tradução vivida, também de Rónai. Como se poderá ver no anexo a este trabalho,9 apenas outros oito livros especificamente voltados para a tradução foram publicados até o final da década de 1980, justamente quando o trabalho do GT, ao lado de algumas outras iniciativas, começa a dar frutos, entre eles um marcante impulso em nossa inserção na pós-graduação e, conseqüentemente, em nossa produção escrita.

No que tange às coletâneas totalmente voltadas para a tradução, o mesmo se poderá constatar: haviam sido publicadas quatro delas entre 1981 e 1983/4 – duas organizadas por Delton de Mattos (UnB) e duas por Waldivia Portinho (Abrates) –, as quais foram seguidas de um intervalo de sete ou oito anos, findo somente em 1991. Também no caso de periódicos exclusivos da área, e como demonstra o referido anexo, contávamos, entre 1981 e 1986, quando foi suspensa (criando um hiato igualmente de oito anos), apenas com a revista Tradução & Comunicação, coordenada por Erwin Theodor e Julio Garcia Morejón, da Faculdade Ibero-Americana de São Paulo. Tanto a ausência de coletâneas quanto a de periódicos especializados eram em certa medida compensadas pela publicação de trabalhos sobre a tradução em coletâneas e revistas de outras áreas disciplinares, como por exemplo a lingüística, os estudos literários e a lingüística aplicada.10 No caso dos periódicos, vale lembrar a publicação de alguns números temáticos exclusivos sobre a tradução, o que ocorre até hoje.

Esboçado um panorama geral das circunstâncias em que surge e começa a desenvolver-se o GT de Tradução da Anpoll, passemos a uma visão de sua história mais propriamente dita, de sua história interna, digamos assim.

Sua já mencionada primeira reunião ocorreu em 1987 no II Encontro Nacional da Anpoll, na UFRJ, simultaneamente às reuniões de outros dezoito GTs, nove deles, inclusive o nosso, constituindo a subárea de letras, e outros dez, a subárea de lingüística. Nela esteve presente o então coordenador do GT e seu criador, o também já mencionado professor Edson Rosa da Silva, com quem havíamos tido somente contatos telefônicos que visaram justamente a organização da reunião, na qual ele então nos informou em detalhe como se estruturava a Anpoll e como se esperava que funcionassem os GTs. Diante de sua proposta de que a coordenação do GT fosse assumida por alguém da área, foi indicado o nome da professora Maria Candida Bordenave, que o coordenou até 1989. Já nessa primeira reunião foram apresentados seis trabalhos, cujos resumos constam dos Anais (pp. 103-108), todos de professoras do Rio: Eliane Zagury, da UFRJ e da UERJ; Irène Monique H. Cubric e Vera Azambuja Harvey, ambas da UFRJ; Marcia A. P. Martins, da PUC/RJ e da Faculdade da Cidade; Maria Candida Bordenave e Maria Paula Frota, nós duas da PUC/RJ.

Para dar uma idéia dos temas que tais trabalhos abordaram, apresento-os a seguir, respectivamente aos docentes acima: a problemática tensão entre a fidelidade filológica e a fidelidade comunicativa; tradução e informática; o prazer de traduzir; estratégias de pesquisa em aulas de tradução; uma metodologia de ensino da tradução; eixos básicos para a formação de um tradutor. Em minha releitura, hoje, desses resumos, sobressai, dado o seu sabor histórico, um trecho do trabalho de Irène Cubric, que se refere à informática “como um ganho para o tradutor, graças ao software chamado Wordstar, processamento de texto que facilita e agiliza a tarefa mecânica do tradutor, tornando o seu tempo mais rentável e deixando-o mais à vontade para poder trans-criar seu texto” (1987, p. 106).

No ano seguinte, 1988, o GT de Tradução reúne-se pela segunda vez, no III Encontro Nacional da Anpoll, novamente realizado na UFRJ. Cabe dizer que a diretoria da Anpoll no biênio 1986-88 era presidida pela professora Maria de Lourdes Cavalcanti Martini, da UFF e da UFRJ, e composta por professores de universidades do Rio de Janeiro. Já a do biênio 1988-90 foi presidida pelo professor Luiz Antônio Marcuschi, da UFPE, e composta por outros docentes dessa universidade bem como da UFBA e da UFPB. Infelizmente não consigo me lembrar de todos os professores presentes nessa nossa segunda reunião, mas os Anais (pp. 403-425) trazem, na íntegra, três trabalhos lá apresentados, o que registra dois importantes avanços havidos em nosso GT. Um deles, a presença de duas professoras de outro estado, Martha Steinberg, da USP, e Rosemary Arrojo, da Unicamp. O segundo, a preocupação em se levantar e analisar a situação da pesquisa sobre tradução. O trabalho de Bordenave, além de apresentar sucintamente três estudos seus no campo do ensino da tradução, traça um interessante panorama histórico da pesquisa na área em nosso país, o qual poderia complementar informações já aqui trazidas, uma vez que ela também aborda publicações, congressos, teses e dissertações voltados para a tradução. O trabalho de Steinberg igualmente enfoca a pesquisa na área, referindo-se a teorias em voga à época – Vinay/Darbelnet, Mounin, Vasquez-Ayora, House – e concentrando-se na peculiaridade tradutória de expressões idiomáticas e metafóricas, neologismos e termos técnicos. Arrojo desconstrói a pesquisa em teoria da tradução, apresentando o que poderia haver de novo nesse front.

A terceira reunião do GT foi realizada em julho de 1989 na PUC-SP. Lembro-me que o número de participantes era maior relativamente às duas reuniões anteriores, contando com pesquisadores de outras áreas que haviam sido convidados pela professora Candida. Devido a uma orientação da diretoria da Anpoll, que não pôde por razões econômicas viabilizar a publicação dos anais em dois volumes, foram escolhidos para publicação apenas alguns dos trabalhos apresentados: o de Sara Viola Rodrigues, sobre tipologia de tradução; o de Tania Carvalhal, sobre tradução e literatura, analisa o texto do outro e o outro do texto; o de Jorge Wanderley, sobre tradução e traduzibilidade; o de Lucinda Ferreira Brito, sobre a interferência de fatores pragmáticos no processo de tradução; e o de Martha Steinberg e outros, sobre o tema da morte em paremiologia (Anais do IV Encontro Nacional da Anpoll, pp. 891-923). Felizmente, contudo, no início desse Encontro foi distribuído um número especial do Boletim Informativo da Anpoll que trazia registrados os resumos das comunicações que seriam apresentadas, de modo que assim podemos agora resgatar sua memória (pp. 130-135). Em uma mesa-redonda intitulada “Tradução: ponto de partida para questões sobre a linguagem”, foram apresentados trabalhos de Heloisa Gonçalves Barbosa (UFRJ), João Alexandre Barbosa (USP) e Rosemary Arrojo (Unicamp), além do de Jorge Wanderley (PUC/RJ e UFF), já mencionado – todos eles diretamente voltados para o tema da mesa, o primeiro ressaltava a tradução como instância de línguas em contato, o segundo, a relação entre tradução, poesia e crítica, e o terceiro, o logocentrismo nas teorias tradicionais de tradução. Em outra mesa-redonda, “Abordagens interdisciplinares nos estudos da tradução”, composta por três docentes convidados, foram apresentados os já referidos trabalhos de Tania Carvalhal (UFRGS) e de Lucinda Brito (UFRJ), além de uma exposição de Kanavillil Rajagopalan (Unicamp), que falou sobre as filosofias de Quine e Derrida como desafios à tradição platônica da tradução. Houve também uma sessão de comunicações da qual fizeram parte Martha Steinberg (USP), com o trabalho já indicado; Candida Bordenave (PUC/RJ), com um trabalho sobre tipologia de erro na atividade da tradução; Marcia Martins (PUC/RJ e Faculdade da Cidade) e Célia Pimentel de Miranda (UERJ e Faculdade da Cidade), com um trabalho sobre o desempenho tradutório de alunos universitários; Sônia Gehring (UFRGS), com uma comunicação sobre a textualidade e a teoria da tradução; e finalmente Stella Tagnin (USP), que apresentou o projeto (integrado por dezoito alunos da pós-graduação) de confecção de um dicionário bilíngüe de coligações verbais. Não cabe aqui desenvolver uma análise dos trabalhos levados a essas nossas primeiras reuniões; se venho registrando os seus títulos e autores é por acreditar que eles por si só dão uma idéia dos primeiros momentos do processo de enriquecimento e expansão experimentado pela pesquisa em nossa área, aos quais não se tem muita facilidade de acesso.

Em sua quarta reunião, realizada em Recife em 1990, no V Encontro Nacional da Anpoll, o GT de Tradução passou por uma transformação radical, a meu ver extremamente positiva. Até essa reunião, como escrevemos em um texto já aqui mencionado (ver nota 1, referência 2), vinha sendo adotada no GT uma sistemática de trabalho através da qual foram dados os primeiros e fundamentais passos no sentido de que “pesquisadores dispersos em várias instituições se conhecessem e passassem a pensar em esboçar propostas que viessem reverter a condição de marginalidade em que a área se encontrava” (pp. 67- 68). No entanto, essa reunião em Recife, à qual poucos membros puderam comparecer, nos mostrou que a restrição dos trabalhos de nosso GT aos Encontros Nacionais da Anpoll acabava por impedir uma articulação e intercâmbio efetivos entre os seus membros. Diante disso e por sugestão de sua coordenadora Rosemary Arrojo – que havia sido eleita na reunião do ano anterior, na PUC-SP –, o GT de Tradução entrou em uma nova etapa, a qual consistiu na descentralização de seu funcionamento, tendo sido criados os GTs Regionais de Tradução, cada qual com sua coordenação própria. Esses GTs Regionais foram criados tendo por base as professoras da área que estavam presentes naquele Encontro em Recife, as quais assumiram suas coordenações: a própria Rosemary Arrojo assumiu o GT de SP; Deisa Chamahum Chaves, da UFOP, assumiu o GT de Minas Gerais; Sara Viola Rodrigues, da UFRGS, o GT do Rio Grande do Sul; e Maria Paula Frota, da PUC/RJ, o GT do Rio de Janeiro.

Foi então que – com o objetivo de mapear, organizar e fortalecer os diferentes grupos de professores e pesquisadores em tradução, e sintonizados através de um tema geral a ser investigado, “A estrutura curricular viável dos cursos de tradução” – os GTs Regionais tiveram um biênio bastante produtivo de um modo geral, com a possibilidade de se realizarem várias reuniões e de se obter um resultado bem mais rico em termos quantitativos e qualitativos, construído de forma mais ágil, econômica e democrática. Esse resultado ficou evidente dois anos depois, portanto em 1992, no VII Encontro Nacional da Anpoll, realizado em Porto Alegre. Cabe esclarecer que a partir de 1991, inclusive, a Anpoll passou a realizar, nos anos ímpares, encontros que congregam apenas os coordenadores dos GTs e dos programas de pós-graduação em letras e lingüística de todas as universidades brasileiras a ela filiadas, razão pela qual só em 1992 voltamos a ter nossa reunião nacional. Esse era mais um fator a reforçar a propriedade da descentralização de nosso GT, a qual veio a ser reconhecida e mencionada como exemplo a ser seguido pela então diretoria da Anpoll.

Nessa quinta reunião nacional do GT de Tradução, embora realizada em Porto Alegre, cidade que implica um deslocamento quase tão dispendioso quanto Recife para a maior parte dos docentes desse país tão grande, tivemos a satisfação de constatar o rico resultado de nossos trabalhos. As verbas destinadas pela Anpoll aos diferentes GTs para cobrir os custos de viagem até Porto Alegre haviam sido encaminhadas às coordenadoras regionais, que ficaram incumbidas de lá apresentar os trabalhos realizados em suas respectivas regiões ao longo do biênio que se concluía. No que diz respeito aos Anais desse VII Encontro da Anpoll, ficou decidido que o espaço a nós alocado seria ocupado o mais democraticamente possível, de modo a refletir as realizações efetivas do GT, daí porque optou-se pela publicação dos resumos de todos os trabalhos que haviam sido apresentados nos encontros regionais, além do pequeno texto já mencionado (ver nota 1, referência 1) em que procuramos descrever o novo funcionamento do GT, mostrando as suas motivações político-institucionais e os resultados alcançados nesse primeiro biênio, além da decisão do grupo de manter para o biênio seguinte, 1992-1994, a mesma estrutura funcional.

Com base naqueles Anais, temos acesso aos resumos dos trabalhos realizados por docentes e por alunos de pós-graduação, trabalhos esses que eram apresentados e discutidos em reuniões e encontros que, regionais, podiam ser muito mais freqüentes e participativos do que as reuniões nacionais. Por considerar de interesse para este registro histórico, passo a apresentar, por região, os autores de tais trabalhos, já que seus nomes nos dão uma idéia dos membros dos GTs regionais em atividade:

Também nesse volume dos Anais do VII Encontro Nacional da Anpoll constam dois outros textos de valor histórico. O primeiro deles, um relato da mesa-redonda realizada pelo GT Rio de Tradução para discutir o nosso já mencionado tema daquele biênio, mesa que se intitulou “A estrutura curricular dos cursos de tradução” e que contou com uma representante de cada uma das seis universidades ligadas àquele GT regional: UFRJ, PUC/RJ, UFJF, UFF, UERJ (representada por Vera Bahiense, cujo nome ainda não havia surgido até este ponto do presente trabalho) e Faculdade da Cidade (pp.1001-1004). À época essas instituições ofereciam bacharelados em tradução e/ou, na maioria dos casos, cursos de especialização, fossem eles voltados para a tradução e/ou a interpretação diretamente, ou indiretamente em especializações voltadas para determinada língua e respectiva literatura. Nesse Encontro do GT Regional do Rio esteve presente Lia Wyler, então presidente do Sintra, a quem foi cedido um espaço para falar da situação dos tradutores no mercado de trabalho. O outro texto que vale aqui mencionar é também um relato de mesa-redonda sobre o tema do biênio, esta realizada pelo GT Regional de São Paulo, no II Encontro Paulista de Pesquisadores em Tradução, com o título “Qual seria o programa de formação de tradutores em nível de graduação, tendo em vista as condições atuais de nossas faculdades de letras?”. Integraram a mesa os seguintes pesquisadores cujos nomes ainda não foram aqui mencionados: Leila Darin (PUC-SP), Álvaro Hattnher (UNESP-Rio Preto), Paulo Ottoni (Unicamp) e Mário Laranjeira (USP).

Eu tive a oportunidade de participar, em 1991, na USP, de uma reunião do GT Regional de São Paulo, que, salvo engano, constituiu o I Encontro Paulista de Pesquisadores em Tradução, no qual tivemos um esclarecedor debate a respeito de uma questão que à época nos afligia: seria válido ou mesmo possível ensinar tradução e, em caso positivo, em que nível e em que formato curricular? Essa questão já havia ensejado a escolha do referido tema a ser discutido nas várias regiões ao longo do biênio. Lembro-me de sair do Encontro com a confortante convicção de que a tradução, como qualquer outro ofício, por mais complexo que seja, não só pode como precisa ser ensinada, e, mais que isso, nos diferentes níveis – graduação, especialização, mestrado e doutorado –, tendo cada um deles as suas especificidades e ênfases, sejam elas mais focadas no ensino/aprendizagem da prática tradutória ou na pesquisa sobre ela. Também muito importante, ficou claro que em nenhuma dessas modalidades se poderia abrir mão da reflexão teórica, fosse ela em nível menos ou mais profundo e abrangente.

Um fato importante para a nossa área que se deu a partir do trabalho do GT de Tradução nesse biênio foi a criação, em 03 de abril de 1992, da Associação Brasileira de Pesquisadores em Tradução (ABRAPT). Nos anais do Encontro Nacional da Anpoll de 1992, lemos: “Esse espaço formal de organização [da área e de desenvolvimento] de [sua] pesquisa, com prerrogativas que lhe possibilitam a arrecadação de verbas, tem como um de seus objetivos colaborar com os GTs [regionais de Tradução] da ANPOLL”.12 Mário Laranjeira foi eleito seu presidente e Rosemary Arrojo, sua vice-presidente.

Como já dito, em vista do êxito dos GTs regionais foi decidido regionalmente que ficaria mantida essa mesma estrutura para o biênio seguinte, 1992-1994, e por isso foram levados para o Encontro Nacional de Porto Alegre os resultados das eleições para as coordenações regionais: Ângela Corrêa, da UFRJ, tornou-se coordenadora no Rio de Janeiro; Helga Prade, da UFSM, no Rio Grande do Sul; e Deisa Chaves e Rosemary Arrojo foram reeleitas em seus estados. Posteriormente entramos em contato com professores da Universidade Federal de Santa Catarina e da UnB, mas não se conseguiu que fossem formados novos grupos de trabalho regionais – no primeiro caso, a área estava ainda começando a se estruturar, e, no segundo, verificamos que, por situar-se na capital federal, onde por razões óbvias há uma grande demanda por profissionais com domínio de línguas estrangeiras, o corpo docente sofria uma rotatividade que impedia a formação de grupos minimamente estáveis. Em Porto Alegre escolheu-se um novo tema para o novo biênio, “A integração da teoria à prática da tradução”, o qual, assim como o anterior, instituía um campo de reflexão e debate que muito nos interessava e que queríamos ver consolidado na realidade dos cursos de tradução, com vistas a atingir, em prazo mais longo, o próprio mercado de trabalho. Foi também nesse Encontro que tive a satisfação de ser eleita coordenadora nacional.

Mantido o funcionamento do GT, os estudiosos da tradução puderam manter a agilidade e freqüência de seus intercâmbios, os quais aconteciam com maior ou menor formalidade nas diferentes instituições de suas respectivas regiões. As coordenadoras regionais, por sua vez, trocavam as informações importantes referentes aos seus GTs regionais. Tanto em 1991 quanto em 1993 foram realizados aqueles Encontros Nacionais da Anpoll restritos a coordenadores de GT e de programas de pós-graduação, sendo portanto uma das tarefas da coordenação nacional repassar essas informações às coordenadoras regionais, que então as divulgavam em seus GTs. Devo dizer que não tenho condições de aqui me deter sobre as discussões e decisões havidas nesses Encontros, que se mantêm até hoje em todos os anos ímpares, mas sugiro aos eventuais interessados a leitura dos respectivos anais e boletins informativos, os quais retratam um quadro bastante interessante da história institucional de nossa pesquisa nas áreas de literatura e lingüística, além de histórias da própria Anpoll e dos GTs. As agências de fomento como CAPES, FINEP e CNPq têm tradicionalmente um espaço garantido e importante nessas reuniões, o que proporciona oportunidade de troca de informações, críticas e esclarecimentos acerca das principais políticas concernentes ao ensino e à pesquisa em nível de pós-graduação no nosso país.

Em 1994, no IX Encontro Nacional da Anpoll, realizado em Caxambu, tivemos nossa sexta reunião, a qual, dada a localização mais central da cidade e, sem dúvida, o avanço relativo de nossa área, pôde contar com várias dezenas de pesquisadores que se reuniram durante três dias para discutir a situação da área (sobretudo na chamada “reunião de trabalho”), apresentar trabalhos (em quatro sessões de comunicações, todas elas voltadas para o tema do biênio; uma sessão de comunicações coordenadas composta por orientandas de Else Vieira, entre elas Adriana Pagano e Célia Magalhães; e dois painéis de alunos da PG da UFRJ e do IEL/Unicamp) e participar de mesas-redondas (duas, sendo uma sobre o tema do biênio e a outra sobre abordagens literárias e lingüísticas da tradução, da qual participou Walter Costa, trazendo então a UFSC pela primeira vez ao GT), além dos encontros informais nos almoços e jantares, que contribuíam para estreitar os laços e aprofundar o intercâmbio.

O mencionado avanço da área era resultante de uma série de fatos importantes. À medida que nos conhecíamos e nos organizávamos, novos fóruns foram naturalmente sendo criados ou continuados: em 1990, ano em que tivemos aquela reunião em Recife, que por razões geográficas e econômicas foi um tanto esvaziada, tivemos por outro lado, na USP, o nosso IV Encontro Nacional de Tradutores, o qual, com John Milton à frente, foi um sucesso em termos de organização, qualidade dos trabalhos e número de congressistas, e contou com a participação de pesquisadores estrangeiros. Aliás, cabe um parêntese para dizer que nessa década de noventa muito se intensificou o nosso intercâmbio em âmbito internacional: além da vinda de estrangeiros, como por exemplo Theo Hermans, Lieven D’hulst, Lawrence Venuti, Anthony Pym, Sherry Simon e tantos outros, passamos a ir cada vez mais aos congressos estrangeiros, que se multiplicavam a olhos vistos, e a publicar em revistas e coletâneas de outros países; vários colegas deram continuidade lá fora às suas formações e aqui difundiam, com grande familiaridade, novas abordagens teóricas. Em 1994, além da concorrida reunião em Caxambu, tivemos o nosso V Encontro Nacional de Tradutores, dessa vez na UFBA. Também aproveitávamos para nos reunir, em grupos maiores ou menores, nos congressos de outras associações, como por exemplo o SIMPLA e o GEL. Em 1992, além de nossa reunião em Porto Alegre e da criação da Abrapt, foi criado o CITRAT, Centro Interdepartamental de Tradução e Terminologia, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Esse Centro já vinha sendo proposto há anos pelo professor Francis Aubert, com vistas a institucionalizar na USP os estudos da tradução e da terminologia, uma vez que também nessa universidade a nossa área não encontrava um espaço próprio na estrutura departamental e programas de pós-graduação. Entre outras iniciativas importantes do CITRAT, destaca-se, em 1994, o lançamento da revista TradTerm, a qual veio pôr fim ao hiato, já aqui referido, que se havia criado em 1986 com a suspensão de nossa única revista, Tradução & Comunicação. Também foram publicados pelo CITRAT os anais dos dois Encontros de Tradutores que acabo de mencionar, o que veio a se repetir no futuro. Um outro fator muito importante para o crescimento e consolidação de nossa área era o fato de que muitos de nós fazíamos doutorado ou éramos recém-doutores, desse modo engrossando as fileiras de nossa luta nos programas de pósgraduação. Uma mostra desse avanço está expressa em um texto de Cristina Rodrigues, que, ao fim da reunião de Caxambu, havia sido eleita coordenadora nacional do GT para o biênio 1994-1996:

Os debates desencadeados durante o evento [nossa reunião em Caxambu] mostram que a comunidade acadêmica tem, cada vez mais, tomado consciência do valor e da complexidade da atividade tradutória, assim como da necessidade do desenvolvimento de pesquisa na área. Mesmo não se constituindo, ainda, em uma disciplina com o status de “área de concentração” e, portanto, marginal em relação aos estudos literários e lingüísticos, tem conseguido aglutinar um número crescente de pesquisadores conscientes da relevância dos estudos da tradução. (Anais do IX Encontro Nacional da ANPOLL, vol. 2 tomo II, 1995, p. 1499)

Nesses Anais, além do texto-relatório acima citado, foram publicados na íntegra oito trabalhos, fruto de seleção feita por uma banca de pareceristas, conforme decisão tomada pelo grupo. Mas no Boletim Informativo 22, que circulou em Caxambu com a programação (pp. lxxx-lxxxiii), estão publicados 32 resumos de trabalhos que seriam apresentados, e posso afirmar que nem todos estão ali registrados. Pelo menos doze universidades estavam representadas, todas ou praticamente todas localizadas nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nessa reunião de Caxambu, o tema proposto para o biênio que ali se iniciava foi “A tradução como área de convergência multidisciplinar”, cuja escolha pautou-se pela necessidade de se abandonarem temas mais restritos e de assim acomodar a amplitude das especializações dos membros do GT. Interessante perceber aí a tensão entre, de um lado, o inegável caráter multidisciplinar dos estudos da tradução, sobre o qual decidimos nos deter, e, de outro, o anseio por um “espaço acadêmico próprio”, expresso, naquele mesmo momento, como prioridade do GT (ver Revista da Anpoll n.1, p. 69).

No biênio 1994-1996 – sob a coordenação nacional de Cristina Rodrigues (UNESP) e as coordenações regionais de Nícia Bonatti (Unicamp), Marcia Martins (PUC/RJ e Faculdade da Cidade), Erica Schultz (UFRGS) e Else Vieira (UFMG) – continuaram os esforços no sentido de consolidar o GT de Tradução como lugar de discussão, produção e divulgação de pesquisa, planejando-se, além dos encontros e reuniões por região, a criação de novos GTs e coordenações regionais nos estados em que também já vinha sendo desenvolvida pesquisa na área. Delineavam-se com clareza as condições que possibilitavam uma sintonia maior entre o nosso GT e os objetivos da Anpoll, explicitamente voltados para a pesquisa e a pós-graduação.

Em nossa sétima reunião, realizada em 1996 no XI Encontro Nacional da Anpoll, que teve lugar em João Pessoa, deu-se uma situação curiosa no que diz respeito à procedência institucional e regional de seus participantes. De acordo com o Boletim Informativo (n. 25) do Encontro, o qual, como já era tradição, trazia a programação da reunião de cada GT e os resumos dos trabalhos a serem apresentados, eram esperados, comparativamente, muito poucos membros dos GTs regionais de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Já o GT Regional de Minas Gerais, que contara até então com uma participação bem restrita da UFMG, tinha a previsão de onze participantes, todos eles dessa universidade e uma da UEMG, certamente um efeito da expansão da área em seu programa de pós-graduação, sob a coordenação de Else Vieira, também coordenadora do GT nessa região. Outra constatação da ampliação do GT foi a presença significativa da UFSC, com seis pesquisadores previstos. Aparentemente, entre esta reunião e a anterior, em Caxambu, a área deu um salto na Universidade Federal de Santa Catarina, que nessa época criara o NET, Núcleo de Estudos de Tradução, e lançou, nesse ano de 1996, a nossa tão cara Cadernos de Tradução. Também não se pode deixar de festejar a ampla presença da UFBA, cuja área de tradução, coordenada pelo professor Luiz Angélico da Costa, que criara àquela época um curso de especialização em tradução, tinha, além dele, outros seis pesquisadores inscritos. Igualmente pela primeira vez, através de Tito Lívio Cruz Romão, da UFC, tivemos um participante do Ceará, graças ao contato regular que a coordenadora nacional Cristina Rodrigues havia estabelecido com ele ao longo do biênio. Cabe lembrar que nesse ano de 1996, além dessa reunião nacional do GT em João Pessoa, foi realizado o VI Encontro Nacional de Tradutores, justamente na Universidade Federal do Ceará e tendo o professor Tito Lívio como um de seus principais organizadores, ao lado da Abrapt. Aproveito para dizer que a coordenadora também vinha tendo contato com a professora Marie-France Dépêche, da UnB, outra universidade que não conseguíamos trazer para o GT por não possuir uma área estruturada. Além desses 37 participantes esperados, constam, no mesmo Boletim, 26 resumos de trabalhos. Um outro fato positivo indicado na programação foi a realização de três painéis, denominados “Resultados de teses”, o qual também contribui para mostrar como havia aumentado o número de mestres e doutores na área.

Nessa sétima reunião em João Pessoa, Heloisa Barbosa, da UFRJ, foi eleita para a coordenação nacional no biênio seguinte, 1996-1998, cujo tema escolhido foi “Os estudos da tradução no Brasil”, assim como o anterior suficientemente abrangente para acomodar as múltiplas tendências. A professora Aurora Neiva, também da UFRJ, veio a assumir a vicecoordenação, cargo que constituía uma novidade. Mauri Furlan, professor da UFSC, foi eleito coordenador do novo GT Regional de Santa Catarina, tendo Marie-Hélène Torres como vice-coordenadora. Um segundo GT Regional novo teve como coordenador eleito o professor da UFBA Luiz Angélico da Costa. Os outros coordenadores regionais eleitos foram: Eliana Amarante M. Mendes, da UFMG; Éda Pilla, da UFRGS; e Alain Mouzat, da USP; Marcia Martins, da PUC/RJ, foi reeleita.

A essa altura, além da mencionada multiplicação de nossos fóruns – novas associações, congressos, publicações – e do conseqüente avanço da área – a qual, mesmo que a considerássemos ainda marginalizada, cada vez mais se inseria nos programas de pósgraduação institucionalizando-se e consolidando-se através de projetos de pesquisa –, havia se dado uma revolução: a internet e, em particular, o correio eletrônico. Essa facilidade de comunicação, embora sem o vigor da troca ao vivo entre colegas de localidades e instituições diferentes, com experiências diversas, começou a alterar de modo radical a identidade do GT. Em parte por não nos darmos conta das rápidas transformações que se processavam, em parte por não nos terem ocorrido alternativas claras ao modo tradicional de seu funcionamento, e sobretudo aos seus objetivos, o GT de Tradução, nesses últimos dez anos, vem buscando um novo papel. Certamente, desde aqueles meados da década de noventa, não seria mais o GT o principal ou mesmo um espaço fundamental para a viabilização de nossos intercâmbios acadêmicos tal como estes eram concebidos. O problema é que não enxergávamos, não tínhamos o afastamento necessário para enxergarmos com nitidez o que se passava, muito menos para imprimir ao GT, conjunta e conscientemente, uma nova função e um novo modus operandi a ela adequado.

A rigor, essa busca por uma nova identidade, ao longo dos últimos vários anos, parece estender-se a praticamente todos os GTs da Anpoll, considerando-se a reunião de coordenadores que se realizou neste ano de 2006 em São Paulo, no XXI Encontro Nacional, e à qual assisti movida pelo interesse que anima o presente trabalho. Para ilustrar o que digo, destaco algumas das afirmações e perguntas que lá registrei: “As mesmas questões reemergem”; “Aglutinar pesquisadores com pesquisas semelhantes ou afins é a base e o problema da Anpoll”; “Deixamos como está ou queremos mesmo mudar?”; “Por que fazer parte de um GT?”; “É complicado sugerir um estatuto, definições para GTs tão diferentes”; “Precisamos desenvolver melhores mecanismos de escrita e de leitura eletrônicas”. Em suma: como os GTs devem se compor, como devem funcionar, quais os seus objetivos?

Do meu ponto de vista, tendo em foco o GT de Tradução e buscando agora reconstruir sua história que lhe seja coerente, eu diria que foi por volta daquele biênio de 1996-1998 que a crise identitária do GT, ou seja, a nossa crise identitária como membros do GT, esteve mais aguda e menos compreendida, já que nela estávamos mergulhados. O fato é que, salvo raras exceções, estávamos todos vinculados a programas de pósgraduação, já éramos todos pesquisadores no sentido restrito do termo, fosse como professores ou como doutorandos. Assim sendo, contávamos com as estruturas de nossos programas institucionais e com as interlocuções que normalmente têm lugar nas relações de orientação de tese. Com o adensamento da área, um novo ritmo de trabalho se apresentava tanto aos doutores já estabelecidos, que enfrentavam grande demanda, quanto aos recémdoutores e àqueles em fase de conclusão de suas teses. Volte-se a acrescentar a isso a concorrência, digamos assim, de todos os outros fóruns nos quais tínhamos interesse. Mas a pergunta que cabe fazer é a seguinte: não seria essa justamente a situação mais condizente com os objetivos da Anpoll, associação de pós-graduação e pesquisa? Não seria paradoxal esse nosso desencontro com o GT quando aparentemente começávamos a ter as condições mais favoráveis para lhe imprimir um papel condizente com os propósitos da Anpoll?

É possível que sim, mas justamente aí se constituía o problema. E, a julgar pela recente reunião dos coordenadores de GTs e de programas de PG a que já me referi, é ainda aí que reside o problema. Como os GTs se articulam com os programas de PG, suas áreas, subáreas e linhas de pesquisa? Deverão as reuniões bienais dos GTs funcionar como mini congressos? Qual a relação dos GTs com outras associações afins, como a Abrapt por exemplo? Como administrar o ingresso e a permanência de seus membros? Essas são questões que lá se fizeram, sempre se sublinhando o fato de que elas vêm sendo feitas há muitos anos, que “já estamos cansados de queixas e repetições”, “que precisamos nos escutar, precisamos falar com todas as palavras”. Realmente, as sucessivas diretorias da Anpoll vêm implementando mudanças nos GTs desde meados da década passada, na tentativa de superar as dificuldades. Entre elas a limitação da existência dos GTs ao biênio, sua renovação sendo garantida apenas com o cumprimento de uma série de requisitos como a projeção das respectivas atividades para o biênio em questão e os relatórios que dão conta da realização ou não das mesmas ao final do biênio; a redução das programações dos GTs a apenas um dia e meio do Encontro Nacional; mesas inter-GTs; regulação de quem pode integrá-los, etc. etc.

O fato é, ou me parece ser, que ainda não superamos o problema que venho qualificando como um problema de identidade. A leitura atenta do relatório de atividades realizadas por região em nosso GT naquele biênio de 1996-1998 e a lembrança viva de nossa experiência no Rio de Janeiro e na oitava reunião nacional que concluiu o biênio, me deixam convicta, com o inevitável risco do subjetivismo, de que o GT havia deixado de ser necessário, havia tornado-se redundante. No Rio, nós que éramos membros-fundadores, havíamos perdido o entusiasmo; por outro lado, o nosso amor ao GT e a seriedade da coordenadora nos levaram a realizar uns poucos encontros, sintomaticamente esvaziados, nos quais expusemos nossas pesquisas em uma interlocução prejudicada pela falta de uma efetiva familiaridade dos interlocutores com os temas e os pressupostos teóricos investigados. Os relatórios feitos pelos coordenadores de Minas Gerais e de Santa Catarina chamam a atenção pelo volume de pesquisas, de teses e dissertações em andamento ou defendidas. A Cadernos de Tradução já partia para o seu terceiro número. Entrevejo nesses relatórios um entusiamo por parte daqueles novos participantes. Mas me parece clara a redundância do GT: por tais regiões entenda-se, a rigor, a UFMG e a UFSC, ou seja, aquelas atividades relatadas eram atividades que prescindiam do GT para sua realização, eram atividades regulares daqueles programas de pós-graduação. E quanto à sua divulgação, pergunto: não tínhamos acesso a elas através das publicações, de nossos encontros em congressos e bancas, ou via correio eletrônico? O GT de São Paulo, diferentemente dos demais, já que, como escreveu o seu coordenador, “se caracteriza[va] pela dispersão geográfica entre os diversos campi do estado”, realizou uma reunião, ao longo de um dia, que compreendeu duas mesas-redondas e onze comunicações. Parece ter sido muito boa, mas seria esse ainda o papel de nosso GT? Eu estenderia essa pergunta à nossa oitava reunião nacional, realizada na Unicamp por ocasião do XIII Encontro Nacional da Anpoll, a qual dedicou a maior parte de seu tempo à apresentação de doze comunicações. Não se terá funcionado, em ambas as ocasiões, como um reduzido congresso, com apresentação rápida de trabalhos, contando os minutos, e perdendo a preciosa oportunidade de discutirmos, ao vivo e com tranqüilidade, a área em geral e o nosso GT em particular? Por que fizemos um “mini congresso”, considerando-se, inclusive, que naquele mesmo ano de 1998 contamos com o VII Encontro Nacional de Tradutores & I Encontro Internacional de Tradutores, realizado na USP, e com o I Congresso Ibero- Americano de Tradução e Interpretação (CIATI), promovido pela Unibero?

Mas vejamos o lado positivo, que, aliás, toda crise implica. Foi também realizada naquela reunião de Campinas uma mesa-redonda, integrada pelos coordenadores que lá estiveram presentes, cujo nome, “Os rumos do GT”, já deixa clara alguma preocupação justamente com o seu futuro papel. Eu diria que a partir daí o GT de Tradução realmente entrou numa nova fase, durante a qual ganhou inclusive um novo nome, GTTRAD.

Embora essa fase tenha englobado um período consideravelmente longo de oito anos, ou, se preferirmos, os biênios 1998-2000, 2000-2002, 2002-2004 e 2004-2006, vou abordá-la em conjunto, por vários motivos, o principal deles a minha percepção de que essa fase caracterizou-se por uma unidade na gestão do GT, o que considero benéfico para as atuais análises e ponderações acerca do que foi possível realizar e de nossas carências. Antes porém de tentar analisar esse período da história do GT de Tradução, passo a dar algumas informações objetivas, como fiz em relação aos períodos anteriores.

Na reunião de 1998, em Campinas, foram eleitos para a coordenação e vicecoordenação nacionais do GT no biênio que se iniciava, respectivamente, Fábio Alves, da UFMG, e João Azenha, da USP. Ao final desse biênio, em 2000, tivemos a nossa nona reunião nacional, no XV Encontro Nacional da Anpoll, o qual se deu na UFF. Como de costume, ao final dessa reunião foi feita a eleição das novas coordenadora e vicecoordenadora, Adriana Pagano, da UFMG, e Maria Lúcia Vasconcellos, da UFSC, que ficaram responsáveis pela coordenação do GT de 2000 a 2002. Neste ano foi realizada a nossa décima reunião, em Gramado, no XVII Encontro Nacional da Anpoll, na qual as duas professoras foram reeleitas para o biênio seguinte, de 2002 a 2004, ao final do qual, em sua décima primeira reunião, que aconteceu em Maceió, no XIX Encontro Nacional da Anpoll, foram novamente eleitos para os dois cargos os professores Fábio Alves e João Azenha, que coordenaram o GT até julho do presente ano de 2006.

Vejamos algumas das iniciativas do GT nesse período de oito anos, que, creio, permitem considerá-lo como uma nova fase, esta marcada por considerável unidade. Em primeiro lugar, ainda naquela reunião de Campinas em 1998, fora decisão da maioria extingüir as coordenações regionais; em seu lugar haveria um representante do GT em cada instituição por ele abrangida. Lamentei à época essa decisão, mas hoje considero-a mais realista, já que não estávamos tendo condições, ou mesmo necessidade, de nos reunirmos regionalmente com aquela freqüência e entusiasmo do passado. Eram novos tempos e aparentemente a decisão pela extinção dos GTs regionais foi acertada, embora não me pareça que a alternativa tenha funcionado. Sem dúvida os grupos e subgrupos, em cada instituição isoladamente, têm o seu intercâmbio natural, por força de integrarem os mesmos programas de pós-graduação, mas não percebi, ao longo desse tempo, movimentos visíveis e especificamente voltados para o GT da Anpoll. Creio que cabe aqui aquela questão já trazida: o que diferencia o GT dos programas de pós? O que, nesse aspecto, justifica a sua existência?

Uma iniciativa positiva do GT, sob a coordenação de Fábio Alves, foi a sua informatização. Como se pode ver em seu plano de trabalho e no relatório das atividades do biênio, em março de 1999 entrou no ar a homepage do GTTRAD, graças ao apoio financeiro e logístico da FALE/UFMG (www.letras.ufmg.br/gttrad). A elaboração da homepage havia sido escolhida como prioridade, de modo que o seu lançamento constituiu um êxito. Além dela, o GT passou a ter uma secretaria com e-mail próprio, o que também representou um avanço, já que, realisticamente, a via eletrônica passou a ser a forma de comunicação preferencial entre os membros do GT e sua coordenação. Por essa via, e contando com a disponibilização de um estagiário com dez horas semanais para auxiliar nessas tarefas de secretariado, a coordenação enviava boletins informativos e cartas circulares aos demais participantes. Foi também feito um cadastro eletrônico dos pesquisadores. Uma outra proposta inovadora que no entanto não se realizou, dado que o seu caráter era ainda pouco conhecido na comunidade, foi a de se realizar um Primeiro Fórum Eletrônico de Debates do GT de Tradução.

Também me pareceu inovador, em conformidade com a proposta temática sugerida pela então diretoria da Anpoll, CartoGrafias, o formato dado à reunião nacional que teve lugar na UFF, ao final do biênio: praticamente não houve comunicações, e foi solicitado que os lá presentes, com vistas ao mapeamento proposto, formassem grupos de trabalho e discussão sobre especificidades da produção de conhecimento na área da tradução em nosso país. Não me lembro de termos discutido propriamente o GT, mas vi como muito positivo o abandono do formato de mini congresso, o qual acabou por ser retomado em todas as reuniões bienais nacionais que se seguiram. Fica aqui registrado mais um aspecto que merece discussão urgente em nosso GT, sobretudo se consideramos a exigüidade de tempo que já há anos passamos a ter nos Encontros da Anpoll. Esse ponto já começou a ser discutido em nossa recente reunião de São Paulo e, como se verá, foi proposta uma alternativa interessante.

Um outro assunto considerado relevante que surgiu na reunião de Niterói e que se tornou um fator determinante para o plano de trabalho do biênio seguinte, em conjunção com o levantamento cartográfico da área que tivera início, foi a inserção exclusiva dos estudos da tradução na área da lingüística aplicada, no contexto da classificação da produção de conhecimento no país. Como escreveu Fábio Alves em seu “Relatório” de 2000: “Entende-se que a área dos Estudos da Tradução é eminentemente interdisciplinar e, nesse contexto, fica prejudicada por esta inserção a ela imposta. Em função desta insatisfação, pretende-se, no próximo biênio tomar as seguintes iniciativas [...]”. Tais iniciativas consistiam em dar andamento ao mapeamento da produção acadêmica da área, para o quê contribuiriam pesquisadores que ficariam responsáveis por “produzir um texto sobre a situação das pesquisas em tradução nas suas respectivas instituições”. Propunha-se que essa cartografia institucional viesse a ser apresentada em um encontro do GT que teria lugar no VIII Encontro Nacional de Tradutores & II Encontro Internacional de Tradutores, a ser realizado na UFMG em 2001. A partir dos resultados desse encontro, se daria andamento “a uma publicação de orientação temática sobre um ‘QUEM É QUEM’ no contexto nacional da produção acadêmica em tradução” (p. 7).

Tendo em vista o mapeamento necessário, as coordenadoras Adriana Pagano e Maria Lúcia Vasconcellos fizeram, no biênio 2000-2002 o “mapeamento da produção de teses e dissertações sobre tradução defendidas por pesquisadores brasileiros”, o qual resultou no CD-ROM Estudos da Tradução no Brasil e no artigo publicado no número especial da D.E.L.T.A. já aqui referido. Dando continuidade a esse mapeamento da pesquisa na área, as duas coordenadoras, reeleitas, propuseram, em seu “Plano de Trabalho” para o biênio 2002-2004, a “elaboração de um projeto de indexação para a produção dentro do campo dos Estudos da Tradução”. Nesses dois biênios, além de darem continuidade à cartografia iniciada por Fábio Alves e João Azenha na gestão do biênio anterior, Adriana e Maria Lúcia, como se pode ler em seu “Relatório” de 2004, deram continuidade à homepage e ao cadastro de pesquisadores em tradução, com a atualização periódica de ambos, e, no caso do segundo, com a sua implementação on-line; organizaram a publicação de um número temático da Cadernos de Tradução sobre ensino de tradução e formação de tradutores, tema que voltou a despertar o interesse dos participantes do GT; e deram início à “reconstrução da história do GTTRAD, a partir da data de sua criação”, colocando na página do GT os dois textos aqui referidos na nota 1. Espero que o presente trabalho possa contribuir para esse projeto.

Na reunião de Maceió – em que as duas professoras concluíram a sua dupla gestão e teve início o biênio que se concluiu recentemente, em julho deste ano de 2006, sob a coordenação, pela segunda vez, dos professores Fábio Alves e João Azenha –, foi feita a seguinte avaliação:

Como epicentro da gestão da Coordenação do GTTRAD que ora encerra seu exercício registra-se a preparação das discussões em torno de um projeto de indexação do campo disciplinar dos Estudos da Tradução no Brasil, projeto que visará construir, a partir do trabalho conjunto de pesquisadores de todas as vertentes e instituições nacionais, uma base que informe categorias de indexação e possa subsidiar trabalhos de referenciação no campo disciplinar. (2004, p. 4)

Além da promoção de discussões em torno do desenvolvimento desse projeto de indexação – que já conta com um banco de dados inicial, denominado “Mapeamento e indexação do campo disciplinar Estudos da Tradução”, localizado em http://letra.letras.ufmg.br/gttrad/ – as atividades realizadas no biênio 2004-2006, conforme o seu “Plano de Trabalho”, tiveram como norte a manutenção e atualização da homepage do GTTRAD (cujo sítio continua a ser hospedado pelo Núcleo de Estudos da Tradução - NET da FALE/UFMG desde o ano de 2000) e do cadastro de pesquisadores em tradução, disponível on-line; a promoção de discussões visando a projetos integrados e interinstitucionais (salvo engano, já se tornou realidade um projeto dessa natureza entre os núcleos de tradução da UFMG e da UFSC); e, por fim, a elaboração, também dando continuidade à proposta anteriormente feita, de um histórico de nosso campo disciplinar que contemple não só, diacronicamente, a institucionalização dos estudos da tradução no Brasil, no qual se insere a realização do painel que o presente trabalho integra, como também, em uma perspectiva sincrônica e de maneira associada ao projeto de indexação, a recuperação de informações sobre a produção acadêmica da área.

Além do andamento que foi sendo dado a essas atividades propostas, na medida em que permitiam sua complexidade e demanda de tempo e esforço, vale registrar as injunções junto à Capes e ao CNPq, pelo coordenador, no sentido de se obter a inclusão da tradução, como subárea, no elenco de rubricas desses órgãos.

Ainda em relação ao período do GT abordado nestas últimas páginas, eu gostaria de trazer umas breves informações, algumas diretamente ligadas a ele e outras, à área como um todo. Em primeiro lugar, eu gostaria de justificar a ausência de menção aos Anais da Anpoll relativos às reuniões bienais havidas nessa nova fase do GT, a qual se atribui ao fato de eu infelizmente não ter conseguido acessá-los; porém, a julgar pelas informações que obtive nas outras fontes em que venho me baseando, eles aparentemente seguiram a tradição de publicar alguns dos trabalhos apresentados sob a forma de comunicações ou, no caso da reunião em Niterói, trabalhos lá aludidos nas discussões em grupo, como forma de apresentar alguns resultados de pesquisas.

Em segundo lugar, eu gostaria de mencionar alguns eventos importantes da área que foram realizados em nosso país durante esse período, mas que, dado o fluxo desta escrita, acabaram por ficar excluídos. Trata-se do IX Encontro Nacional de Tradutores & III Encontro Internacional de Tradutores, realizado em 2004 na cidade de Fortaleza, sob a organização da UECE e da Abrapt; os II e III CIATIs, realizados em 2001 e em 2004, pela Unibero; o I Congresso Nacional de Tradução da ABRATES, realizado em 2003, e o I Congresso Internacional de Tradução da ABRATES, realizado em 2005; e, em 2003, a criação do PGET, Pós-Graduação em Estudos da Tradução, primeiro programa de mestrado exclusivamente voltado para a tradução, em vias, proximamente, de englobar também um doutorado.

Em terceiro e último lugar, eu gostaria de destacar dois assuntos interligados que me parecem extremamente relevantes, ambos discutidos recentemente na décima segunda reunião de nosso GT, na PUC-SP, e levadas como propostas para a coordenação do atual biênio, 2006-2008, a qual contará com a experiência da professora da UFRJ Heloisa Barbosa, que, como visto, foi coordenadora do GT no período crítico e por isso mesmo tão importante que procurei aqui reconstruir, além de também ter sido presidente do Sintra de 2003 a 2005, e coordenadora de programa de pós-graduação. No atual biênio, o nosso GT conta também com as previsíveis contribuições da professora da USP Lenita Esteves, experiente tradutora e teórica da tradução que foi eleita vice-coordenadora.

O primeiro assunto que quero destacar consiste na clara percepção que afinal passamos a ter de que não se faz mais necessário dedicarmos o nosso exígüo tempo – um dia e meio a cada dois anos – de reunião nacional à apresentação de trabalhos individuais sob a forma de comunicações. Essa convicção do grupo gerou a idéia de, em nossa próxima reunião de 2008, no XXIII Encontro Nacional da Anpoll, termos uma ampla discussão acerca da área da tradução em nosso país, discussão essa que englobará não só um mapeamento detalhado dos cursos, linhas e projetos de pesquisa atualmente existentes no Brasil, como também, e o que considero mais urgente, o universo de nossas associações. Com esse propósito – e chego assim ao segundo assunto – temos a rica oportunidade, desde já, de finalmente repensarmos e nos esclarecermos a respeito das identidades individuais de nossas associações nacionais – o GT de Tradução da Anpoll, a Abrapt, a Abrates, o Sintra – e das reais e possíveis relações entre elas. No que tange a essas inter-relações, ficam registradas algumas questões: como exatamente concebemos a relação entre o GT, seus membros e objetivos, e os nossos programas institucionais de pós-graduação e de pesquisa? Sendo a Abrapt uma associação brasileira, como podemos reconcebê-la como tal, ou seja, menos “confundida” com a USP? E quanto à Abrates, sendo ela uma “associação que se propõe a promover atividades culturais, sociais e educativas” que tem entre suas metas “a promoção de cursos, eventos, seminários” (Boletim da ABRATES n. 5, 2001, p. 1), não seria interessante propormos uma interação entre ela, o nosso GT e a Abrapt? E quanto ao Sintra, não é mais do que urgente nos relacionarmos com ele?

No que se refere às duas últimas perguntas, cabe, como ponto de partida, pensarmos que, se no passado, dada a proximidade das datas de criação do GT e de desativação da Abrates, esses dois fóruns não chegaram a estabelecer nenhum vínculo, talvez tenhamos hoje, com a reativação da Abrates em 1999, uma interessante perspectiva de parceria. O mesmo se pode dizer em relação ao Sintra, visto que seria extremamente profícua a articulação entre uma entidade acadêmica e outra sindical, considerado o hiato que ainda prevalece entre a academia e o mercado de trabalho em nossa área. Com essa aliança, poderíamos buscar uma atuação mais efetiva junto ao público-leitor e aos nossos clientes. De acordo com os próprios referenciais teóricos que vêm cada vez mais predominando em nossos estudos e o aumento significativo do número de tradutores com formação universitária específica, é possível afirmar que, embora em seus primórdios, começa a darse uma saudável aproximação entre teoria e prática profissional.

Para finalmente concluir esta história, desejo a todos nós um GT cada vez mais forte e representativo, e com este propósito convido meus possíveis leitores a se dirigirem, neste mesmo sítio, ao “Plano de Trabalho do GT de Tradução para o biênio julho 2006/junho 2008” e, como se diz coloquialmente, a botarem a mão na massa.

ANEXO

Publicações sobre tradução – livros, coletâneas e revistas:

Livros:

1. 1952: Escola de tradutores, de Paulo Rónai (essa primeira edição foi depois revisada e ampliada)
2. 1954: A arte de traduzir, de Brenno Silveira (nova edição publicada em 2004)
3. 1974: Byron no Brasil: traduções, de Onédia Barboza
4. 1975: A tradução vivida, também de Rónai
5. 1976: Tradução: ofício e arte, de Erwin Theodor
6. 1980: A formação do tradutor em nível universitário, de Delton de Mattos
7. 1980: Tartufo 81, Guilherme Figueiredo
8. 1982: Tradução e ruído na comunicação teatral, de Geir Campos
9. 1986: O que é tradução, também de Geir Campos
10. 1986: Oficina de tradução: a teoria na prática, de Rosemary Arrojo
11. 1987: Tradução intersemiótica, de Julio Plaza
12. 1988: A presença de Oscar Wilde na “belle époque” literária brasileira, de Gentil de Faria
13. 1990: Tradução: a ponte necessária, de José Paulo Paes
14. 1990: Procedimentos técnicos da tradução, de Heloisa Barbosa
15. 1993: As (in)fidelidades da tradução, de Francis Aubert
16. 1993: O poder da tradução, de John Milton
17. 1993: Poética da tradução, de Mário Laranjeira
18. 1993: Tradução, desconstrução e psicanálise, de Rosemary Arrojo
19. 1998: Tradução: teoria e prática, de John Milton (republicação do livro anterior do autor, de 1993)
20. 1999: Tradução e diferença, de Cristina Carneiro Rodrigues
21. 1999: Ossian no Brasil, de Ofir B. de Aguiar
22. 1999: Tradução técnica e condicionantes culturais. Primeiros passos para um estudo integrado, de João Azenha Junior.
23. 1999: Literatura e cinema: da semiótica à tradução cultural, de Thaïs F. N. Diniz (2ª. edição de 2003)
24. 2000: Abordagens teóricas da tradução, de Ofir B. de Aguiar
25. 2000: A singularidade na escrita tradutora: linguagem e subjetividade nos estudos da tradução, na lingüística e na psicanálise, de Maria Paula Frota
26. 2002: Walter Benjamin: tradução e melancolia, de Susana K. Lages
27. 2002: O Clube do Livro e a tradução, de John Milton
28. 2002: Tradução de humor: transcriando piadas, de Marta Rosas
29. 2003: Línguas, poetas e bacharéis: uma crônica da tradução no Brasil, de Lia Wyler
30. 2003: Tradução retextualização: a tradução numa perspectiva textual, de Neuza G. Travaglia
31. 2003: Notas do tradutor e processo tradutório, de Solange Mittmann
32. 2006: Tradução e adaptação: encruzilhadas da textualidade, de Lauro M. Amorim

Coletâneas:

1. 1981: Estudos de tradutologia, organização de Delton de Mattos (UnB)
2. 1982: A tradução da grande obra literária, org. de Waldivia Portinho (Abrates)
3. 1983: Cultura e tradutologia, org. de Delton de Mattos (UnB)
4. 1983/4: A tradução técnica e seus problemas, org. de Waldivia Portinho (Abrates)
5. 1991: Tradução: teoria e prática, org. de Malcolm Coulthard e Carmen Rosa Coulthard (UFSC)v 6. 1992: O signo desconstruído: implicações para a tradução, a leitura e o ensino, org. de Rosemary Arrojo (Unicamp)
7. 1994: Letras em tradução, org. de Ana B. Ferreira e outros alunos da PUC-Rio
8. 1996: Teorizando e contextualizando a tradução, org. de Else R. P. Vieira (UFMG)
9. 1996: Limites da traduzibilidade, org. de Luiz Angélico da Costa (UFBA)
10. 1998: Tradução: a prática da diferença, org. de Paulo Ottoni (Unicamp)
11. 1999: Tradução e multidisciplinaridade, org. de Marcia A. P. Martins (PUC-Rio)
12. 2000: Práticas discursivas: instituição, tradução & literatura, org. de Maria José P. Monteiro (UFRJ)
13. 2000: Traduzir com autonomia, org. de Fábio Alves, Célia Magalhães e Adriana Pagano (UFMG)
14. 2001: Clássicos da teoria da tradução v. 1 (alemão-português), org. de Werner Heidermann (UFSC) (como nos demais volumes da série, traduções de textos teóricos estrangeiros)
15. 2001: Reflexões sobre a análise crítica do discurso, org. de Célia Magalhães (UFMG)
16. 2001: Metodologias de pesquisa em tradução, org. de Adriana Pagano (UFMG)
17. 2003: Conversas com tradutores, org. de Ivone Benedetti e Adail Sobral (USP)
18. 2003: À margem das traduções, org. de Ivo Barroso (todos os textos são de autoria de Agenor S. de Moura)
19. 2003: Tradução: fragmentos de um diálogo, org. de Ofir B. de Aguiar (UFG)
20. 2004: Clássicos da teoria da tradução v. 2 (francês-português), org. de Cláudia Faveri e Marie- Hélène Torres (UFSC)
21. 2004: Visões e identidades brasileiras de Shakespeare, org. de Marcia A. P. Martins (PUC-Rio)
22. 2005: Competência em tradução: cognição e discurso, org. de Adriana Pagano, Célia Magalhães e Fábio Alves (UFMG)
23. 2005: Clássicos da teoria da tradução v. 3 (italiano-português), org. de Andréia Guerini e Maria Teresa Arrigoni (UFSC)
24. 2006: Clássicos da teoria da tradução v. 4 (Renascimento), org. de Mauri Furlan (UFSC)
25. 2006: Relevância em tradução: perspectivas teóricas e aplicadas, org. de Fábio Alves e José Luiz Gonçalves (UFMG)

Revistas:

1. 1981 a 1986: Tradução & Comunicação, 9 números coordenados por Erwin Theodor e Julio Garcia Morejón, Faculdade Ibero-Americana de São Paulo
2. 1994: TradTerm, Revista do Centro Interdepartamental de Tradução e Terminologia (CITRAT), da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP
3. 1996: Cadernos de Tradução, Núcleo de Estudos da Tradução (NET) da UFSC
4. 1997: Cadernos de Literatura em Tradução, ABRAPT e CITRAT/USP
5. 2001: Tradução & Comunicação, retomada pela UNIBERO, que lança o n. 10
6. 2004: Tradução em Revista, da área de Tradução do Departamento de Letras da PUC-Rio

Números temáticos de revistas de letras em geral:

1. 1984: Remate de Males, n. 4, IEL/UNICAMP
2. 1987: Ilha do Desterro, n.17 , UFSC
3. 1988: Trabalhos em Lingüística Aplicada, n. 11, IEL/UNICAMP
4. 1992: Ilha do Desterro, n. 28, UFSC
5. 1992: Trabalhos em Lingüística Aplicada, n. 19, IEL/UNICAMP
6. 1994: Letras, n. 8, UFSM
7. 1995: Range Rede - Revista de Literatura, n. 1, UFRJ
8. 1995: Com Textos - Revista do Departamento de Letras da UFOP, n. 6
9. 1997: Ilha do Desterro, n. 33, UFSC
10. 1999: Ilha do Desterro, n. 36, UFSC
11. 2000: Alfa, n. especial, UNESP
12. 2001: Crop, n. 6, USP
13. 2002: Gragoatá, n. 13, UFF
14. 2002: Revista Brasileira de Lingüística Aplicada, v.2/n. 2, ALAB
15. 2003: D.E.L.T.A., n. especial

obs.: como só constam dessa relação números temáticos exclusivamente voltados para a tradução, nela não figuram, por exemplo, um número de 1989 da 34 Letras, voltado também para a leitura; um número de 1992 da Alfa - Revista de Lingüística, da UNESP; e o n. 8 da Claritas, PUC-SP, publicado em 2002.

Reuniões do GT de Tradução nos Encontros Nacionais da ANPOLL:

1. 1986: sugerida a sua criação no I Encontro Nacional da Anpoll, UFRJ
2. 1987: primeira reunião, no II Encontro Nacional da Anpoll, UFRJ
3. 1988: segunda reunião, no III Encontro Nacional da Anpoll, UFRJ
4. 1989: terceira reunião, no IV Encontro Nacional da Anpoll, PUC-SP
5. 1990: quarta reunião, no V Encontro Nacional da Anpoll, UFPE
6. 1992: quinta reunião, no VII Encontro Nacional da Anpoll, Porto Alegre
7. 1994: sexta reunião, no IX Encontro Nacional da Anpoll, Caxambu
8. 1996: sétima reunião, no XI Encontro Nacional da Anpoll, João Pessoa
9. 1998: oitava reunião, no XIII Encontro Nacional da Anpoll, UNICAMP
10. 2000: nona reunião, no XV Encontro Nacional da Anpoll, UFF
11. 2002: décima reunião, no XVII Encontro Nacional da Anpoll, Gramado
12. 2004: décima primeira reunião, no XIX Encontro Nacional da Anpoll, Maceió
13. 2006: décima segunda reunião, no XXI Encontro Nacional da Anpoll, PUC-SP

Encontros Nacionais / Internacionais de Tradutores:

I –1975, PUC/RJ
II – 1985, PUC/RJ
III – 1987, UFRGS
IV – 1990, USP
V – 1994, UFBA
VI – 1996, UFCE
VII / I – 1998, USP
VIII / II – 2001, UFMG
IX / III – 2004, UECE

Congresso Ibero-Americano de Tradução e Interpretação (CIATI), promovido pela Unibero:

I – 1998
II – 2001
III - 2004